SHELOCK HOLMES, HISTÓRIA E RELEITURAS.

Sherlock Holmes é um personagem de contos e romance de Sir Arthur Conan Doyle. O autor retrata o personagem como um detetive que utiliza o racionalismo e o método dedutivo para compreender os homicídios realizados na Inglaterra e que a Scotland Yard tem dificuldades em resolver. O racionalismo do personagem evidencia o cientificismo do século XIX, o ceticismo, as evidencias levando a um resultado “elementar”, tudo em companhia de seu amigo e companheiro de investigações Watson.
            Dentre várias releituras de Sherlock Homes, tanto no cinema, quadrinhos e romances chamo a atenção para o livro escrito por Jô Soares, “O Xangô de Baker Street” adaptado para o cinema, onde o personagem é chamado para investigar uma série de crimes. O que o torna mais interessante é a dificuldade dele desvendar os crimes pelo desconhecimento da cultura brasileira, assim o Jô e o cineasta conseguem manter as características do personagem inglês que se relaciona com uma cultura diferente, e apesar de sua erudição não conhece coisas simples da cultura do país em que está ajudando a desvendar os crimes.


Sherlock Holmes retorna pelas mãos de Anthony Horowitz
IAN SANSOM
DO "GUARDIAN"

A perseguição vai começar mais uma vez. O maior detetive particular do mundo retorna para solucionar mais um caso. É claro que Anthony Horowitz não é o primeiro a ter acrescentado histórias ao cânone holmesiano - os 56 contos e quatro romances primeiro reunidos e publicados juntos em 1930 como "The Complete Sherlock Holmes".

Há muitos outros livros e contos que competem para ser incluídos, dos quais os mais importantes são os muitos escritos apócrifos do próprio Arthur Conan Doyle, não incluídos entre os 60 sagrados: peças, comentários, autoparódias e histórias sobre detetives pré e sub-holmesianos. E há também os muitos escritos, filmes e programas de rádio e TV profanos baseados em, inspirados por ou derivados de os originais, que vão desde "The Misadventures of Sherlock Holmes" (1944), editado por Ellery Queen, até o filme "O Irmão Mais Esperto de Sherlock Holmes" (1975), com Leo McKern no papel de Moriarty.

Naturalmente, algumas dessas aventuras não escritas por Conan Doyle são melhores que outras: a criativa "A Three Pipe Problem" (1975), de Julian Symons, caiu no esquecimento injusto, enquanto um Sherlock recente da BBC foi merecidamente elogiado.


Mas "The House of Silk" ocupa uma categoria única: o romance de Horowitz é o primeiro acréscimo ao cânone Sherlock Holmes a ter sido escrito com o aval dos herdeiros de Conan Doyle. Não se trata de uma atualização. Como sua capa proclama com orgulho, é "o novo romance sobre Sherlock Holmes". Horowitz é o sucessor ungido. E muito será exigido daquele a quem muito é dado.

Holmes já morreu. Watson, idoso e solitário -- "dois casamentos, três filhos, sete netos, uma carreira de sucesso na medicina e a Ordem do Mérito" --, se propõe a narrar uma das primeiras aventuras compartilhadas por Holmes e ele, um caso tão monstruoso e chocante que ele teve que relegar o relato escrito aos arquivos de seus advogados por cem anos. A nós, os leitores do futuro, ele lega "um derradeiro retrato de Sherlock Holmes". O retrato é preciso? Este é o Holmes que conhecemos e amamos?

É 1890. Subimos os 17 degraus que levam ao primeiro piso da casa do número 221B da Baker Street. Tudo está como poderíamos prever. O elenco de sempre se reúne. A sra. Hudson está presente, com um prato de bolinhos. Wiggins e os irregulares de Baker Street têm uma participação bem-vinda, assim como o inspetor Lestrade, com sua cara de rato, e Mycroft ("ele ainda vive, por falar nisso. Na última vez em que tive notícias, ele tinha recebido título de cavaleiro e era reitor de uma universidade conhecida."), além de Moriarty ("Sou um matemático, Dr. Watson... Também sou o que o sr. sem dúvida qualificaria como criminoso."). A pobre Mary, esposa adoentada de Watson. Lá fora, a neblina e os coches de aluguel. No apartamento, Holmes, com seu violino e sua solução a 7%.

Todos os elementos estão presentes: os dados, os dados. Nada de importante foi esquecido. Mas será que Horowitz, como Holmes, consegue com estas gotas de água criar a possibilidade de um Atlântico ou um Niágara? Consegue nos surpreender, nos emocionar? Nos apresentar "as deduções rápidas, velozes como intuições mas sempre fundamentadas numa base lógica" pelas quais ansiamos?

Enfaticamente, sim. Os personagens estão, como o próprio Conan Doyle quereria que estivessem, tão próximos de clichês quanto permite a boa escrita. O Watson de Horowitz se exime desde o início de quaisquer reclamações quanto ao estilo ou ao conteúdo, lembrando-nos da avaliação várias vezes feita por Holmes das histórias: "Ele me acusou em mais de uma ocasião de romantismo vulgar e me considerou não melhor que qualquer escrevinhador de Grub Street".

Precisamos, portanto, aceitá-los nos termos deles: Mr. Carstairs, o perturbado marchand de obras de arte, que está sendo vigiado por um estranho misterioso que usa boina chata e tem "uma cicatriz lívida na face direita". A esposa dele, misteriosa aventureira estrangeira. Cornelius Stillman, arrogante milionário americano. A perversa gangue irlandesa de Boston, comandada pelos brutais gêmeos O'Donaghue. A louca do sótão. O reverendo esquisito que administra um lar para meninos. Os grandes elementos de praxe: o assalto do trem, a fuga da prisão, o show de aberrações, a corrida de carruagens puxadas por cavalos.

Dorothy L. Sayers compreendeu as regras do jogo holmesiano quando observou que "ele deve ser jogado com tanta solenidade quanto uma partida de críquete no Lord's: o menor toque de extravagância ou farsa arruína a atmosfera". Horowitz joga com correção total. Este é um Sherlock que se leva a sério.

[...]

Tradução de Clara Allain.



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