LOGOMARCAS, IMAGENS E EDUCAÇÃO OPERÁRIA?

Na Era das Ideologias, principalmente após a criação da Rússia socialista (1917-1991), onde existia uma oposição ao capitalismo, e as pessoas lutavam por um ideal vinculado ao coletivismo e não ao individualismo. O cientista social, Otto Neurath (1882-1945), tentando elaborar um sistema educativo para a classe operária desenvolveu um conjunto de ideias que aplicou ao design gráfico a facilidade da compreensão de determinados símbolos, como os que usamos diariamente para discernir entre os banheiros masculinos e femininos.
            A intenção dele era educar, mas sua criação tornou-se tão popular, com informações claras e objetivas que utilizaram como marcas de empresa, ou seja, tornou-se comercial.

 O cientista social que revolucionou o design
STEVEN HELLER
DO "NEW YORK TIMES"

Nós as vemos em aeroportos, hospitais e repartições públicas, em salas de espera e banheiros, em entradas e saídas: silhuetas esquematizadas de homens, mulheres e crianças. Esses ícones gráficos se caracterizam pelo estilo geométrico simples e reconhecível de imediato. São onipresentes, mas poucos sabem suas origens.

Os protótipos dessa linguagem pictórica foram desenvolvidos na década de 1930, no Museu de Sociedade e Economia, em Viena, por Otto Neurath [1882-1945], cientista social esquerdista especializado em economia política. O sistema de símbolos que ele criou, que ficou conhecido como Isotype (Sistema Internacional de Educação Pictórica Tipográfica), nasceu do desejo de revolucionar o entendimento entre povos e instituições.

O fato de um economista político ter feito história no design gráfico não é aleatório. Neurath "queria familiarizar e educar a classe trabalhadora em relação aos sistemas mais amplos de ordem que operam na cidade contemporânea", escreve o crítico Nader Vossoughian em "Otto Neurath: The Language of the Global Polis" [NAi Publishers, 176 págs., R$ 82,70], biografia compacta e muito pesquisada que explica a filosofia visual de Neurath no contexto de suas preocupações sociais e ambientais.
LOGOMARCAS: Continental Air Lines, TV CBS, 
editora Penguin e do Centro Georges Pompidou.

Neurath buscou criar "um sistema de representação gráfica que tornasse dados estatísticos legíveis e acessíveis a públicos de massa não especializados", para "lançar uma ponte entre a leitura e a visão, num esforço para acelerar a transmissão de informação".

Seu sistema de imagens redutivas, que mostrava pessoas por características estereotipadas (trabalhadores braçais com martelos, funcionários de escritório com máquinas de escrever, lavradores com enxadas), criou imagens tão facilmente reconhecíveis que as palavras ficaram supérfluas.

A gama era tão ampla e os diagramas de construções e máquinas tão variados que qualquer ideia poderia ser expressa por uma ou mais imagens combinadas.

ESTATÍSTICAS
Neurath pode não ser tão conhecido, mas tem importância maior no mundo das estatísticas visuais. Outros livros sobre sua obra saíram nos últimos dez anos, mas o de Vossoughian é particularmente útil. Traz uma quantidade generosa de ilustrações nunca antes vistas (incluindo propostas e esboços) e decompõe as preocupações de Neurath (comunidade, democracia e globalismo) em categorias temáticas.

Cada uma delas contribuiu para uma narrativa que ele acreditava poder se tornar mais transparente com o uso de suas imagens. O homem "recebe sua educação pelos meios mais cômodos, especialmente em seus períodos de descanso, por meio de impressões óticas", ele escreveu. Segundo Vossoughian, Neurath acreditava que "a disseminação de imagens podia fomentar a Bildung, ou seja, a educação e autoatualização".

Um bom exemplo de como os símbolos Isotype foram usados para elevar a conscientização popular é encontrado em "Modern Man in the Making", obra de Neurath publicada em 1939; ela ilustra lindamente os meios que ele criou para mostrar dados, de outro modo impenetráveis, em imagens enxutas e de fácil assimilação. Vossoughian mostra que Neurath é o pai da tendência de uso de infográficos, tanto em meios de comunicação impressos como na internet.

Neurath ajudou a aprimorar as comunicações com seu altruísmo. Para muitos designers, porém, a criação de símbolos ou logotipos não passa de uma atividade rentável. Por que o custo de desenhar uma insígnia pode chegar à casa dos milhões? Porque os logotipos são mais do que meras marcas de identificação. São ícones sagrados, ou, como disse Paul Rand, o criador de logotipos da IBM e da Westinghouse, são patas de coelho, emblemas do incalculável.

SÍMBOLOS
Nos séculos 20 e 21, foram criados símbolos e signos mnemônicos em volume suficiente para encher um livro grosso. Angus Hyland e Steven Bateman compilaram mais de 300 páginas deles em "Symbol" [Laurence King, R$ 94,50], com mais de 1.300 logotipos classificados por categoria. São símbolos de todo tipo: de marcas abstratas, como as da Canal Metro (emissora espanhola) e do banco Chase Manhattan ao inconfundível pinguim da editora Penguin ou ao brasão heráldico de leão da polícia dinamarquesa.

Muitos, como o símbolo de "Watsu", "abreviação de 'water shiatsu'" (shiatsu na água), são tão difíceis de interpretar que nem a explicação ajuda. Outros são tão evidentes que o prazer de resolver uma charada visual se perde. É o caso do símbolo do Conselho de Estilistas de Moda da América, um coração em forma de bandeira dos EUA sendo costurada.

"Symbol" traz a devida parcela de símbolos fracassados, como o logotipo da KereKere (rede de restaurantes australianos cujo nome se refere ao costume de "dar sem esperar nada em troca"), que mostra uma espécie de xícara da qual sai vapor em forma de corações.

Mas há símbolos inesquecíveis e atemporais, como o "olho" da CBS, criado por William Golden, e o retângulo do Centro Georges Pompidou, idealizado por Jean Widmer, que mostra a escada rolante externa subindo pela fachada do museu parisiense.

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Tradução de Clara Allain.

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