JOE SACCO E SEUS RELATOS SOBRE AS GUERRAS NO ORIENTE MÉDIO

Reúno aqui algumas das últimas reportagens da "Folha de São Paulo" sobre esse importante quadrinista e suas obras jornalísticas sobre os Conflitos no Oriente Médio.



"Não são os tiroteios que me interessam", diz Joe Sacco na Flip

O quadrinista maltês Joe Sacco, 50, autor de"Notas sobre Gaza" (Companhia das Letras) e"Palestina" (Conrad), disse agora há pouco, na Flip, que seu interesse em cobrir guerras e conflitos na forma de histórias em quadrinhos não é retratar bombas ou tiroteios, mas a vida dos civis sob essa influência.
"Depois que cobri a Guerra do Iraque, percebi que a vida dos soldados é sempre muito parecida, que eles se preocupam muito mais com a proteção do grupo do que com as questões políticas da guerra em si", explicou. "O que me interessa não é o poder de fogo de uma guerra. Isso é muito perigoso para o meu gosto. Estou interessado nos civis e em como suas vidas são afetadas pelo conflito."

VIAGEM NO TEMPO
Sacco abriu sua fala usando o telão da Tenda dos Autores para mostrar imagens de seus livros e explicar como algumas reconstruções históricas foram feitas com base em imagens da época, pesquisadas nos arquivos das Nações Unidas. "Com uma pesquisa histórica bem feita, os quadrinhos permitem uma viagem no tempo. Você pode ir do presente da narrativa para o passado, e de volta ao presente em apenas dois quadros."
O autor explicou por que resolveu escrever suas primeiras reportagens em quadrinhos sobre o conflito Israel-Palestina porque, como cidadão americano, ficava muito contrariado com o fato de seus impostos financiarem as ocupações israelenses. "Além disso, cresci com a presunção de que todo palestino era um terrorista em potencial porque era isso o que eu ouvia da mídia norte-americana. Foi a Europa que me mostrou que a história tinha contexto e nuances."
Para ele, desde a primeira Intifada, o grau de violência na Faixa de Gaza aumentou muito. "Na primeira Intifada, os jovens palestinos atiravam pedras nos soldados israelenses. Na segunda, eles se tornaram homens-bomba."

JORNALISMO
Em todas as suas histórias, Sacco é narrador-personagem, ou seja, desenha a si mesmo (de forma divertida, com grandes óculos de lente opaca e boca carnuda) na maioria das cenas da narrativa. Na Flip, ele explicou o porquê: "A objetividade jornalística é algo imperfeito. E me colocar nas histórias é uma forma de dar uma dica ao leitor: essa é a minha visão desses fatos".
Sacco disse que sempre fez questão de explicitar nos desenhos que, em algumas entrevistas, se questionava se estava ouvindo um relato fiel ou uma memória fantasiosa dos fatos. "A história oral tem muitos problemas. Às vezes, no meio de uma entrevista, meu tradutor palestino virava pra mim e dizia: 'Não acredito em nada do que esse cara está falando'. E isso entrou na HQ."
Questionado por uma pergunta da plateia sobre por que não quis fazer uma HQ sobre o conflito baseada em relatos de israelenses, focando apenas na versão palestina, Sacco tergiversou. "Não existem referências em inglês ou em outra língua ocidental sobre essas histórias. Nos arquivos das Nações Unidas, em Nova York, há apenas um documento sobre o massacre de palestinos, em 1956, na vila de Khan Younis, de que trato em 'Notas sobre Gaza'. Queria dar voz à memória dos palestinos."
Fonte:



Mais Informações:
http://www.omelete.com.br/quadrinhos/joe-sacco-participa-de-dois-eventos-em-sao-paulo/

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

TINTIM, O IMPERIALISMO E A EUGENIA

DESENHO SOBRE DIVERSIDADE ÉTNICA

HISTÓRIA E FICÇÃO: IDADE MÉDIA E O FILME “ROBIN HOOD O PRINCIPE DOS LADRÕES”