RELATO DA GUERRA CIVIL COM OS SERVIDORES 03/03/2020
Nesse relato/testemunho vou contar o que presenciei. Ou seja, não é um texto de cunho jornalísticos, apesar de ter informações, não tenho compromisso histórico, porque não estou fazendo análise. Assim é minha versão dos fatos e atitudes que presenciei.
Até o final do dia 02/03/2020, a possibilidade de eu ir para São Paulo na manifestação dos Servidores Públicos do Estado de SP, era pequena, pois o transporte disponibilizado pela APEOESP estava lotado. Com a mudança abrupta do horário da votação para as 9hs da manhã, alguns colegas tiveram que desistir, o que me permitiu seguir viagem as 7hs da manhã rumo a Assembleia Legislativa de São Paulo (ALESP).
Chegamos atrasados, entramos no prédio, que estava acessível e com movimento intenso de pessoas. No Plenário Juscelino Kubitschek da ALESP, estava tendo discursos dos deputados, para depois ter a votação da Reforma da Previdência Paulista. No térreo escutávamos no andar de cima, um barulho de batidas e palavras de estímulo contra a Reforma.
Subimos a escada e começamos a fazer coro às palavras e barulho batendo na parede que circundava o Plenário. Conseguimos nos dirigir a sua entrada, onde vi dois policiais, e mais próximo pude enxergar a tropa de choque atrás. Isso me assustou, ainda não tinha dimensão da organização militar que eles elaboraram, mas fiquei intrigado: “Por que a tropa de choque por volta das 9:40, já estaria dentro das entradas do plenário?”
Após escutarmos uma gritaria no andar de baixo, ouvimos bombas de gás lacrimogênio. Algumas pessoas que estavam fora da ALESP conseguiram entrar. Esse pessoal que entrou estava incomodado com a repressão. Ao nos encontrarem no 1º andar, fizeram coro aos nossos gritos e começou o empurra-empurra para forçar a entrada ao Plenário, que ainda estavam nos impedindo. Nesse momento vimos uma moça com falta de ar no meio do empurra-empurra e a retiramos do tumulto. Quando olho para trás vejo jatos de pimenta sendo jogados de forma abundante nos servidores.
Inalei e tossia sem parar, algumas pessoas receberam esse jato no rosto, que além de tossir, ficaram atordoadas e desorientadas foram afastadas por nós. Nesse momento as coisas perderam o controle, alguns manifestantes começaram a quebrar alguns objetos próximos e atacar nos policiais, que revidaram com tiros de borracha. Muitos tiros de borracha. Nisso, pegam a mangueira do hidrante, intentando lançar nos agressores, porém algumas pessoas começaram o "deixa disso", com medo de mais violência por parte dos policiais. Parece também, que a mangueira estava sem pressão, o que desmotivou o grupo.
Nesse momento já havia respirado muito gás de pimenta e estava com muita sede, ao procurar água um policial que estava na escada impediu minha ida ao andar de baixo, disse que eu só poderia subir. Então sigo ao 2º andar. Quando volto, observo o mesmo cenário que o anterior, policiais com gás de pimenta e manifestantes tentando se aproximar da porta do plenário.
Em dado momento a tropa de choque sai dando tiros de borracha e cacetadas nos manifestantes, que dispersaram, e eles dividem os corredores, separando os grupos. Diversas pessoas começam a gritar com os policiais. Esse cenário se mantém até o final dos discursos, e durante a votação. Nesse período acompanho a votação pela TV. Com a aprovação da Reforma por volta das 12:20, saímos da ALESP e seguimos em direção ao carro de som dos sindicatos dos diversos servidores públicos, pois no período da tarde teria os destaques - alterações sugeridas, aprovadas ou não, pelos deputados.
Próximo do carro de som encontramos os profissionais divididos em lados opostos da rua, uns perto do carro de som e outros na mesma avenida, porém bem distante. Pois no meio havia uma entrada da ALESP e parte da tropa de choque enviando bombas de gás lacrimogênio e tiros de borracha sem parar em nós. Em dado momento enviaram tantas que parecia chuva de bomba, nessa, um senhor foi atingido na cabeça, e teve atendimento no local.
Próximo do carro de som encontramos os profissionais divididos em lados opostos da rua, uns perto do carro de som e outros na mesma avenida, porém bem distante. Pois no meio havia uma entrada da ALESP e parte da tropa de choque enviando bombas de gás lacrimogênio e tiros de borracha sem parar em nós. Em dado momento enviaram tantas que parecia chuva de bomba, nessa, um senhor foi atingido na cabeça, e teve atendimento no local.
Ao final, refletindo sobre a atitude e estratégia da tropa de choque, vejo que estavam muito bem preparados para dispersar civis e manifestantes. Pois estavam no corredor de entrada no plenário, evitaram a entrada da multidão do lado de fora. Dividiram os grupos para impedir ganhar força, com tiros, spray e bombas para separar os manifestantes. Essas atitudes da tropa de choque indicam que estava muito bem preparada para uma guerra com os civis de seu Estado. Nisso lembro um dos pais da sociologia, Max Weber, quando afirma que “o Estado tem o Monopólio da Violência”, podendo agredir quem quiser e ser legítimo, dentro da lei. Enquanto manifestantes, a sociedade civil, o cidadão como um todo, numa atitude de revidar, se exaltar no momento de tensão, é vista como ilegal. Penso que os excessos devem ser punidos, o problema são as narrativas simplistas buscando mocinhos e bandidos.
Enquanto durava esse embate, entre os servidores públicos da educação, da segurança pública, da saúde e demais áreas, o governador tomava seu suco de laranja. Para mim o bandido, o mandante de tal tratativa aos servidores, são o governador e o presidente da ALESP, que tentaram fazer de tudo para a realização da votação o mais rápido possível. Como sempre, sem a participação da população.
Comentários
Postar um comentário