TORMENTO DO SILÊNCIO
Li,
o texto Terreno Baldio de Carta Capital que faz referência ao texto Ecos da Modernidade de David Le Breton, publicada no Estadão, o que me motivou a
procurar mais informações sobre como a nossa sociedade lida com o rompimento do
silêncio no texto de Le Breton.
Ao
ler o texto Ecos da Modernidade muitas percepções e ideias me vieram à cabeça,
lembrei que muitas vezes disfarço minha solidão com música alta, algo como uma
companhia inexistente. Lembrei-me também da absurda atitude de um vizinho que ao receber uma objeção, devido a grande quantidade de fogos soltadas no natal 2013, o que não permitia as filhas do outro vizinho dormir - por medo das
explosões -, e como resultado, o vizinho deu dois tiros no outro vizinho. O
barulho ao mesmo tempo diverte uns, tira a solidão de outros, e também pode
incomodar.
Interessante
a análise de David le Breton, ao apresentar que nossa sociedade está inserida
nesse mundo de barulhos, sendo de carro, moto, ônibus, buzinas, gritos,
conversas altas, máquinas ao realizar seu trabalho, como computadores,
televisores, rádios, cortadores de grama e outros. Ele diz que o silêncio é um
tormento, e culpamos o rompimento do tormento como sendo os outros, nunca nós
mesmos, ou seja, quando estamos fazendo barulho não percebemos, mas quando
estamos em silêncio o barulho nos incomoda.
Esse
fato além de evidenciar nosso egoísmo e individualismo, reflete nossa solidão
que para preenchê-la usamos o barulho para nos distrair. Nesse ponto, vejo algo
extremamente relevante, inclusive abordado pelo autor, o barulho nos distrai
para não termos de pensar sobre nós, nossos atos, nossas vidas, acabam rompendo
a reflexão que nós faríamos de nós mesmos - nas palavras de Karl Marx, gera a
alienação.
Para
le Breton o silêncio pode ser um incomodo por também não ter um valor agregado,
ou seja, dá a impressão de que você não está produzindo algo rentável. Porém
afirma o autor, que numa jogada de marketing o silêncio tornou-se algo
valoroso, quando se tem que diminuir os ruídos das máquinas devido à poluição
sonora e quando a qualidade de vida é encontrada fora dos grandes centros
urbanos.
Ao
distrair e alienar, o barulho afasta a reflexão e nos faz acomodar com as
circunstâncias em que vivemos, e não pensar, ou criticar nossas atitudes, o que
pode levar ao extremo, como as ações do vizinho que assassinou o outro por
reclamar do barulho dos fogos na cidade de Indaiatuba. O silêncio pode ser sem
valor para nossa sociedade, mas é a falta de silêncio que nos deixa sempre estressados,
agitados, perfeccionistas... Esse ritmo ditado pelas máquinas e pela era
digital acaba nos levando para o “mal” do século que é exatamente o estresse,
depressão, síndrome do pânico, bipolaridade e outras doenças psicológicas que
estão bem em voga no nosso tempo e que levam a atitudes extremas.
Fontes:
http://www.cartacapital.com.br/cultura/terreno-baldio-3188.html
http://www.estadao.com.br/noticias/suplementos,ecos-da-modernidade,1037823,0.htm
http://www.tribunadeindaia.com.br/noticias/policia/9294-policia-civil-pede-auxilio-da-populacao-em-busca-por-assassino.html
http://espiandoalagoas.wordpress.com/2007/04/18/o-barulho-do-tigre/
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