SIONISMO, O ESTADO DE ISRAEL E A PALESTINA

O sionismo foi um movimento judeu ocorrido a partir do século XIX na Europa Central e no Leste do mesmo continente, em decorrência das perseguições antisemitas ocorridas nesses locais e nessa época. O movimento tem um cunho nacionalista típico desse momento histórico e propunha a autodeterminação e a criação de um Estado Judeu, prioritariamente, onde fora o monte Sião, e para a região que Moisés migrou com o povo hebreu após a fuga do Egito. 


Após as atrocidades cometidas aos judeus durante a II Guerra Mundial, a sensibilização dos países vitoriosos e principalmente sobre a mediação da Inglaterra e EUA, é criado o Estado de Israel na Palestina, antigo local de povoamento Hebreu, que na época era povoado por islâmicos e que iniciou os conflitos que conhecemos até hoje entre os palestinos e israelitas. 

As reportagens abaixo informam sobre a tese do historiador israelense Shlomo Sand de que o sionismo foi uma invenção dos judeus, pois, ao pertencerem à mesma religião dos Hebreus, se autodenominam herdeiros desse povo, e uma crítica a ela. Mas o historiador afirma que houve tantas mudanças, mestiçagens e adaptações as religiões que não se pode confundir exaltação de um povo antigo, com o seu presente. Ou seja, os judeus de hoje seguem a religião judaica e tem nacionalidades determinadas não pela sua condição religiosa e sim pela sua naturalidade, quem nasce em Israel é israelita e não necessariamente judeu. 

Acrescenta o historiador que deveria haver a criação do Estado da Palestina junto a Israel e acabar definitivamente com os conflitos entre judeus e muçulmanos. 


Historiador israelense defende que povo judeu é invenção do sionismo 
FABIO VICTOR
DE SÃO PAULO 
Na carteira de identidade do historiador israelense Shlomo Sand, no lugar reservado à nacionalidade está escrito que ele é judeu. 

Sand, 64, solicitou ao governo que seja identificado de outro modo, como israelense, porque acredita que não existe nem um povo nem uma nação judeus. 

Seus motivos estão expostos em "A Invenção do Povo Judeu". Best-seller em Israel, traduzido para 21 idiomas e incensado pelo historiador Eric Hobsbawm, o livro chega agora ao Brasil (Benvirá). 

O autor defende que não há uma origem única entre os judeus espalhados pelo mundo. A versão de que um povo hebreu foi expulso da Palestina há 2.000 anos e que os judeus de hoje são seus descendentes é, segundo Sand, um mito criado por historiadores no século 19 e desde então difundido pelo sionismo. 

"Por que o sionismo define o judaísmo como um povo, uma nação, e não como uma religião? Acho que insistem em ser um povo para terem o direito sobre a terra. Povos têm direitos sobre terra, religiões não", diz à Folha, por telefone, de Paris. 

"Na Idade Média a palavra povo se aplicava a religiões: o povo cristão, o povo de Deus. Hoje, aplicamos o termo a grupos humanos que têm uma cultura secular -língua, comida, música etc. Dizemos povo brasileiro, povo argentino, mas não povo cristão, povo muçulmano. Por que, então, povo judeu?" 

Valendo-se de fontes e documentos históricos, a tese de Sand, ele mesmo admite no livro, não é em si nova (cita predecessores como Boaz Evron e Uri Ram). "Sintetizei, combinei evidências e testamentos que outros não fizeram, pus de outro modo." 

Ele compara: até meados do século 20, "a maioria dos franceses achava que era descendente direto dos gauleses, os alemães dos teutões e os italianos, do império de Júlio César". "São todos mitos", afirma, "que ajudaram a criar nações no século 19". 

Neste século 21, sustenta, não há mais lugar para isso. 
"Não só o Brasil é uma grande mistura. A França, a Itália, a Inglaterra são. Somos todos misturados. Infelizmente há muitos judeus que se acham descendentes dos hebreus. Não me sinto assim. Gosto de ser uma mistura." 

Shlomo Sand
Filho de judeus, nascido num campo de refugiados na Áustria, o autor lutou do lado israelense contra os árabes na Guerra dos Seis Dias, em 67, quando o país ocupou Cisjordânia e faixa de Gaza.

Em seguida virou militante de extrema esquerda e passou a defender um Estado palestino junto ao de Israel. Professor na Universidade de Tel Aviv e na França, onde passa parte do ano, o historiador avalia que as hostilidades entre israelenses e palestinos, reavivadas nas últimas semanas, continuarão por tempo indeterminado. "Enquanto o Estado palestino não for reconhecido nas fronteiras de 67, acho que a violência não vai parar." 


Fonte: 
http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/966168-historiador-israelense-defende-que-povo-judeu-e-invencao-do-sionismo.shtml
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq2708201109.htm



Obra é panfleto acadêmico com proposta radical

Autor dá base para a criação de um Estado binacional no lugar de Israel

Sinagoga, templo religioso Judeu de estilo moderno,
nesse caso referente ao Yom  Kippur (dia religioso de jejum e reza).
ARIEL FINGUERMAN
ESPECIAL PARA A FOLHA


Até a Idade Média, o judeu (assim como o cristão) sabia muito bem o que era: membro de uma comunidade definida por uma religião. Nascia, vivia e morria sem vontade ou possibilidade de mudar sua identidade.

Com a Idade Moderna, isso mudou. O processo de urbanização quebrou as estruturas comunitárias tradicionais, a Revolução Industrial transformou todos em consumidores, o Iluminismo deu a base filosófica de direitos iguais e a Revolução Francesa colocou tudo isso em ação. 


O resultado para os judeus, e isso até os dias de hoje, é que uma boa parte desse povo, especialmente aqueles que deixaram as muralhas fechadas da ortodoxia, não sabe muito bem o que é. Membro de uma religião, mesmo levando em conta que raramente vai a uma sinagoga?



Parte integral do país onde vive, se bem que nem sempre reconhecido como tal por seus compatriotas? Até mesmo os nazistas, quando resolveram assassinar os judeus, tiveram dificuldade em defini-los. "Eu decido quem é judeu", dizia Göring. 


Segundo a lei ortodoxa judaica, a religião é transmitida pela mãe. Para os reformistas, a maior sinagoga dos EUA, pode ser pelo pai. Em Israel, há mais de 60 anos se discute o assunto no Parlamento e na Suprema Corte, sem uma conclusão. 

Sinagoga de estilo mais tradicional.
Uma das mais recentes reflexões dessa área é "A Invenção do Povo Judeu", de Shlomo Sand. Trata-se de uma obra acadêmico-panfletária, que causou algum frisson em Israel e na Europa.
Como livro acadêmico, traz uma proposta interessante, definindo o judeu pelo que ele não é: uma raça pura, descendente dos heróis bíblicos. 


Sand mostra que em diferentes períodos históricos, especialmente na época de Jesus, os judeus fizeram proselitismo, converteram pagãos e assim desprezaram qualquer ideia de "raça pura". 

Mas, em sua face panfletária, Sand quer nos convencer de que a ideia de "povo judeu" é uma mera invenção de historiadores sionistas dos últimos 150 anos, desejosos de unificar comunidades para tomar posse da Palestina. 


Para ele, a Bíblia nunca foi uma base cultural comum dos judeus, mas é usada cinicamente agora como "documento de posse". 

Somente nas últimas das quase 600 páginas de seu livro Sand revela o motivo de seu esforço intelectual: dar base acadêmica para a ideia de um Estado binacional israelense-palestino, que substituiria o Estado de Israel. 

É uma proposta radical, que não é exigida nem pela Autoridade Palestina nem pela Liga Árabe. Como obra acadêmica, o livro de Sand soa panfletário. Mas, como panfleto, é acadêmico demais. 

ARIEL FINGUERMAN é doutor em estudos do judaísmo pela USP e pela Universidade de Tel Aviv.

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq2708201111.htm

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